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Palito Pereira, o irmão de Pelé

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Não foi exatamente fácil para Álvaro Daniel Pereira Barragán sair do bairro de Punta de Rieles, em Montevidéu, até uma semifinal de Copa do Mundo, na África do Sul, em 2010.

Álvaro nasceu no dia 28 de novembro de 1985, fruto da união de Nelson Pereira, um comerciante de verduras, e Ana Barragán, costureira. É o garoto caçula e o quarto de cinco filhos do casal (três homens e duas mulheres). À medida que foram crescendo, os irmãos Pereira precisaram buscar alternativas para se sustentarem e ajudarem com os custos da casa, localizada na Rua Centauro. Foi aí que o hoje são-paulino e seu irmão Danilo começaram a vender os chamados “bizcochos” (pães doces, cozinhados pelo irmão) aos amigos da escola e das categorias de base do Miramar Misiones, clube da capital em que iniciaram no futebol. Com o dinheiro, conseguiam pagar o transporte para os treinos, para onde também iam de bicicleta.

Apesar de começar a carreira no Miramar, o garoto não era um torcedor dos Cebras (zebras, apelido do time). Os familiares se dividiam entre Peñarol, Nacional e Cerro, sendo esses dois últimos os clubes da preferência de Álvaro. Na verdade, simpatiza com o Tricolor, mas tem o carinho pelo Cerro em razão do pai, torcedor fanático do clube – pelo qual Álvaro sonha jogar um dia, justamente para realizar o sonho de Nelson. O vigor físico também parece vir do “velho”, que até hoje mantém uma rotina de corridas para se exercitar, como fazia com o filho nas ruas de Montevidéu.

Palito PereiraNas inferiores, foi testado algumas vezes como primeiro volante, mas o forte mesmo era seu desempenho na lateral esquerda. Subiu ao profissional em 2004 e chegou a jogar junto de Danilo, lateral-direito, mas que não acompanhou o sucesso de “Palito”. Apelido o qual Álvaro ganhou justamente do irmão, que quando pequeno não conseguia chamá-lo de “Alvarito” (no diminutivo), pronunciando um “Alpalito” que, mais tarde, daria origem a essa alcunha utilizada por muitos que se referem ao atleta.

Como todo bom uruguaio, Palito gosta de comer churrasco. Ou “asado”, como dizem no país – e também na Argentina. Entretanto, não come nada com gordura e nem o famoso chorizo. O jeito então foi sempre compensar (e bem) nos outros tipos de carne e alimentos. Tão bom de garfo era que chegou a assustar quem o acompanhou em sua passagem pelo Quilmes-ARG, seu segundo clube na carreira. Talvez por ser muito jovem (chegou nos Cerveceros com apenas 20 anos) e pela solidão, não sabia controlar muito bem a questão da alimentação. Mas melhorou muito após deixar o clube, dizem. No Quilmes não teve sucesso, sendo lembrado somente por um gol incrível que perdeu contra o Lanús.

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Em 2008, se transferiu para o Argentinos Juniors, gerando muita desconfiança na torcida do Bicho. Mas com bom futebol e gols, algo que não foi capaz de fazer no Quilmes, calou a boca dos críticos. Em uma partida contra o Newell’s Old Boys, válida pelo Apertura de 2007, balançou a rede três vezes na goleada por 4 a 0 – terminaria o torneio como artilheiro do time, com sete. Das arquibancadas, ouvia-se o canto: “Álvaro Pereira é o irmão de Pelé”. E tudo isso, ironicamente ou não, em pleno Estádio Diego Armando Maradona. A brincadeira emocionou o lateral, que teve de se segurar para não chorar em campo. O motivo? Seu irmão mais velho, Alejandro, era chamado de Pelé pela qualidade que tinha com a bola nos pés. Dois meses antes de Álvaro marcar os três gols no Newell’s, Alejandro faleceu em decorrência de problemas no coração. Há quem afirme – e o próprio Palito acredita – que Alejandro era o melhor futebolista entre os três irmãos. Naquela dia do triplete, sua mãe Ana estava nas tribunas assistindo à partida.

Ainda antes de iniciar sua passagem pela Europa, Álvaro conheceu na Argentina sua companheira até os dias de hoje, Cintia, natural de La Plata, onde o casal morava. Inclusive, durante esse Apertura em que foi o goleador do Argentinos, ficou sabendo que seria pai pela primeira vez: veio ao mundo o pequeno Mateo, hoje com cinco anos.
Logo na sequência, em 2009, foi comprado pelo Cluj da Romênia, onde começou a caminhada rumo ao Porto, seu melhor momento na carreira. Na Europa, especialmente quando defendia o clube romeno, não largava o mate nas frias viagens para jogar pelo campeonato nacional. Mas ele não era o único a tomar, já que tanto no Cluj como no Porto e também na Inter de Milão, o elenco sempre contou com outros uruguaios e argentinos. Aconteciam também os asados, mas Palito não se atrevia muito a preparar as carnes. Aliás, nunca foi o lateral o encarregado de servir os churrascos. Só observava e comia enquanto os companheiros tomavam conta das parrillas e churrasqueiras.

Em Portugal, sagrou-se duas vezes campeão da Copa e uma do Campeonato Português. Além disso, conquistou a Liga Europa em 2011, mesmo ano que a Seleção Uruguaia levantou a taça da Copa América. Anotou dois gols no torneio continental, um deles o tento que deu a vitória por 1 a 0 diante do México e, consequentemente, a classificação ao grupo de Oscar Tabárez para as oitavas de final. Um dia depois, sua mulher Cintia daria a luz ao segundo filho do casal, Lucio. O local? La Plata, palco do gol contra o México, do nascimento de Cintia e também do primeiro filho, Mateo. Definitivamente, um lugar especial na vida do jogador.

A partir da chegada dos dois herdeiros, Álvaro passou a ser um cara ainda mais caseiro. Em seus momentos de lazer, gosta de passear com a família e, durante os recessos de futebol profissional, gosta de viajar. Em relação a música é eclético, mas escuta bastante salsa.

Como em seu começo no futebol, o uruguaio esbanja seriedade tanto nos treinos quanto nos jogos. Fora das quatro linhas é mais descontraído, brinca e conversa, ainda que nesse princípio de São Paulo haja certa timidez de vez em quando. Na concentração, assiste a futebol quase o dia inteiro. Quem concentra com o lateral brinca que até “pede permissão” para assistir a outra coisa que não jogos.

A trajetória pessoal e profissional de Álvaro Pereira, como a de muitos jogadores pelo mundo, valeria um filme. Inclusive, há um projeto biográfico já iniciado, que possui até um trailer na internet: “El Hermano de Pelé”. Mas a falta de tempo e de parceiros brecaram a produção, feita em parceria com o amigo de infância e ex-companheiro no Miramar Agustín Lucas.

Talvez o destino queira contar para todos a história de Álvaro mais para frente, pois ainda existem muitos capítulos a serem escritos. No São Paulo, Palito escreve mais um.

Bruno Rodrigues

Fotos: Rubens Chiri/saopaulofc.net, Agustín Lucas e site Bichos Colorados.


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